sexta-feira, 11 de outubro de 2019

A GRANDE ENTREVISTA A PEDRO MARIA GOMES, CABO DO GRUPO DE FORCADOS AMADORES DE LISBOA.

Boa Noite Pedro Maria Gomes, sou Simão Foles, cronista do blog Tauromaquia Alentejana e tal como falámos hoje à tarde no Campo Pequeno vou realizar-lhe uma entrevista  a publicar no blogue.
Desde já agradeço  a sua simpatia e disponibilidade para a entrevista.
A continuação vou lhe mandar as perguntas.
1-Como surgiu a ideia de ser Forcado?
Foi um processo natural porque desde que nasci que acompanho o Grupo. Durante toda a minha infância conheci bastantes Forcados do Grupo, presenciei muitas corridas, jantares e até engraxei muitos sapatos, achava piada ajudar os Forcados na fardação. Por isto, foi normal que no inicio da adolescência começasse a participar nos treinos do Grupo, com 13 anos.

2-Quando se fardou pela primeira vez e em que praça?
Fardei-me pela 1ªvez em Abiul, a 14 de agosto de 1997, com 16 anos de idade.

3- Quando foi a primeira pega?
A 1ª pega foi em 2000, em Porto Covo. Como referi em cima comecei a fardar-me aos 16 anos, mas sempre como ajuda e só aos 19 peguei o 1º toiro. A partir daí pegava e ajudava.

4-Como é de conhecimento geral, há uns anos atrás sofreu uma grave colhida,Como viveu esse momento e como viveram esses momentos o seu irmão e o seu pai, José Luis Gomes, nessa altura cabo do grupo? Pensou na retirada?
Eu vivi esse momento sem ter grande noção, até certa altura claro, mas os momentos criticos, as 1ªs duas semanas, para mim foram "fáceis", na medida que não tinha noção da gravidade. Para o meu irmão, meu Pai e em especial para a minha Mãe, foram momentos muito dificieis e sei que lhes tirei anos de vida, mas felizmente já se passaram 16 anos e faço uma vida normal.
Não é fácil receber a noticia dos médicos para "se irem despedir do filho"...foram estas as palavras que a minha familia e alguns amigos mais chegados receberam no Hospital de São José.
O meu irmão sei que não se fardou em algumas corridas nessa época, mas assim que eu saí de perigo voltou a fardar-se e a "ultrapassar", na medida do possível, a situação. O meu Pai era o Cabo na altura, mas é uma pessoa muito positiva e como líder, teve que arranjar forças pelo momento familiar por que estava a passar e saber motivar o Grupo para lidar com esta situação e que não interferisse nas prestações do Grupo. Sei que não foi nada fácil, mas como um Grande Grupo que é o GFAL, souberam dar a volta.

5- Em que momento soube que ia  ser cabo? e como reagiu?
O meu Pai decidiu em 2009 que se despedia no ano seguinte e houve uma eleição com todos os actuais Forcados da altura. A escolha recaiu sobre mim, não tendo sido uma eleição unanime, mas foi por maioria.
Dado todo o meu historial no Grupo, ser Cabo do Grupo sempre foi um sonho, mas nunca foi um objectivo. Aceitei essa responsabilidade como uma missão para a vida e com sentido de agradecimento a todos por verem em mim capacidades para liderar o Grupo.

6- Imagino que ser cabo é diferente a fardar-se e sair à praça, como é ser cabo de um grupo com tanta historia?
A minha forma de ver o papel de um Cabo vai muito para além do arranjar corridas, ver as caracteristicas dos toiros, conhecer as ganaderias e os seus encastes, etc. Para mim um Cabo é um gestor de recursos humanos, uma pessoa que saiba liderar, motivar, passar bons exemplos, fazer com que todos saibam tirar o melhor que cada um tem. Quando o que referi é conseguido, o papel de Forcado activo resulta muito melhor. 
Ser Cabo do GFAL é tudo o que referi acima, com o acréscimo da responsabilidade de liderar um Grupo com tanta história e ser o seguidor de dois grandes nomes da Tauromaquia, Nuno Salvação Barreto e José Luís Gomes.


7-Este ano é a comemoração dos 75 anos do grupo de Lisboa, o Pedro será o cabo no ano do 80º Aniversario?
Não sei, sou Cabo há 9 anos e a minha vida mudou muito desde então, mas de qualquer forma, estarei fardado nos 80 anos.

8-Quantos forcados se fardaram na corrida do Campo Pequeno?
Penso que foram 92 Forcados. O mais velho é do final dos anos 60, com 72 anos e o mais novo com 14 anos, que entrou este ano no Grupo.

9-Como qualifica a corrida de Sexta-feira? Aliás com a despedida de um dos seus homens de confiança,como é o forcado Pedro Gil?
A noite de 27/09 foi memorável para o Grupo, mas também para a Tauromaquia. Para o Grupo é óbvio, não é pelas pegas terem sido à 1ª tentativa, foi por tudo, pela maneira de pegar, viu-se a escola do Grupo, foi por termos a pegar um antigo Cabo, com 64 anos, a despedida de um grande Forcado, Pedro Gil, um jovem com 16 anos a pegar, em que era o seu 4º toiro. Tudo isto fez da nossa noite, uma noite de sonho, com a Porta Grande aberta para nós, com a certeza que deixámos todos os antigos Forcados bastante orgulhosos e elevámos o historial do Grupo.
Também foi para a Tauromaquia porque um agente da Festa comemorar 75 anos de actividade ininterrupta é de louvar e merecedor de destaque, foi sem duvida uma noite memorável para a Tauromaquia.
Infelizmente este ano houve 2 Forcados que decidiram que seria a ultima temporada. Nuno Bonneville e Pedro Gil, são a par do Pedro Nunes os elementos mais velhos do activo e por isso com um papel muito importante para todos e claro, para mim. O Bonne e o Tita, foram e são o exemplo perfeito do que é ser Forcado. Amigos, disponiveis, bem formados, humildes, atributos que todos os forcados deveriam ter.
Deixarão de se fardar, mas tenho a certeza que continuarão a acompanhar o Grupo e a serem olhados pelos mais novos como referências.


10- Como resume esta temporada de comemoração? Foi como esperava? Numa temporada em que o grupo de Lisboa esteve em boca de todos os aficionados.
Esperava mais corridas, mas mesmo assim fazemos cerca de 16/17 corridas, o que nos dias de hoje é bom. Regressámos a praças que não iamos há muitos anos, casos de Beja, Vila Franca, praças em que a presença do Grupo não só era habitual, como era tradição. Também fomos pela 1ª vez à Chamusca e logo numa corrida importante, os 100 anos da praça.
O balanço é muito bom, ao nível da efeméride e de todos os grandes Forcados que passaram pelo Grupo.
O Grupo ter estado na boca de todos os aficionados, como referiu, justifica o que eu disse  acima, é o reconhecimento maior que podemos ter, o aplauso do aficionado.


11- Que requisitos é que se precisa de ter para ser forcado de Lisboa?
Para além dos que referi  acima, ao falar do Bonne e do Tita, acrescento a coragem. Sem este requisito não podemos ser Forcados em praça.

12- O que sentiu quando logo no primeiro toiro, a praça veio abaixo a aplaudir de pé o seu pai, José Luis Gomes? Imagino que muita emoção.
Uma emoção muito grande, o reconhecimento do público e de todos nós pela excelente carreira de Forcado que o meu Pai teve. Para mim com 38 anos começa a não ser fácil meter-me à frente de um toiro e no Campo Pequeno muito menos, agora imagine com 64 anos, em que os nossos recursos são muito menores. Só com uma grande moral, coração e com muita experiência, é que se consegue estar disponível para saltar a trincheira e abrir praça numa corrida tão importante. Não posso também deixar de referir todos os Forcados antigos que aceitaram farda-se nessa noite e que ajudaram, como foi possível ver em todas as pegas da noite.


Queria agradecer novamente ao Pedro pela disponibilidade e simpatia.
Cumprimentos 
Simão Foles



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